25 de julho de 2019

História das Raves - Os Clubbers também iam para as Raves


RAVES


Animados ou curiosos, jovens lotam as raves,
festas que só acabam muito, muito tarde

Foto que tirei de uma Rave em 1999

Tudo o que você queria saber sobre as Raves


Animados ou curiosos, jovens lotam as raves, festas que só acabam muito, muito tarde.  

A geração inarredavelmente ancorada na casa dos "enta" com certeza ainda se lembra das cenas domésticas que aguardavam os filhos moderninhos ao final de festas de arromba: mães descabeladas, pais emburrados apontando o relógio, que marcava o tardio horário de 5 ou 6 da manhã.

Hoje, com os papéis invertidos, muitos pais que viveram a juventude nos anos 70 já devem ter notado que as festas ficaram muito, muito mais longas.

É a onda das Raves, festas produzidíssimas que começam à meia-noite e só terminam por volta das 2 horas da tarde do dia seguinte (ou mais).

São realizadas ao ar livre, em sítios ou fazendas, ou em lugares amplos e improváveis, como fábricas e galpões desativados. As raves são o programa do momento para jovens de vários cantos do país, especialmente São Paulo, Rio de Janeiro e Trancoso, no sul da Bahia.

As Raves surgiram no Brasil no início dos anos 90, trazidas pelos clubbers, a tribo globalizada nascida do culto à música eletrônica e aos figurinos extravagantemente coloridos.

No começo, era puro amadorismo, e diversão garantida para as no máximo 200 pessoas que tinham sorte (e as conexões certas) para descobrir o endereço, mantido sob sigilo reservado no passado aos "aparelhos" da esquerda clandestina.

Foram crescendo e passaram a atingir um público bem mais amplo. O que perderam em espontaneidade, ganharam em organização e abrangência.

A Rave Fusion ­Tropic Eyes certa vez amontoou alegadas 8.000 pessoas em um sítio nos arredores de São Paulo. "Preferia muito mais as raves do começo, mas ninguém ganhava dinheiro", filosofa o inglês Shane Hughes, 24 anos, no Brasil desde 1994, hoje promotor profissional dessas festas.  

Clubbers nas Raves



Ampliadas do universo clubber, com seus piercings e cabelos coloridos, para o público dos mauricinhos, patricinhas, universitários, surfistas, motoqueiros, secretárias e curiosos em geral, as raves de agora — ou, pelo menos, as que Hughes organiza, já que as megafestas costumam ter local — recebem, em média, entre 2.000 e 5.000 pessoas.

A atração principal é a música, embalada por DJs respeitadíssimos do cenário nacional ou até especialmente vindos da Europa, a meca mundial da tribo clubber. Na esteira do som, vem sua conseqüência óbvia: dança, dança e mais dança.

À parte, quem gosta de adrenalina pode arriscar saltos de bungee-jump. A infra-estrutura, impecável, começa na facilidade do estacionamento, passa pela ausência de filas na compra das bebidas e vai até a limpeza dos banheiros.

É tanta organização que até frustra um pouco quem espera encontrar um clima meio underground, evocativo de Woodstock e outras celebrações enlameadas do passado. "É a segunda festa a que venho e acho que ficou muito popularizada", criticava o piloto de avião Rogério Trivella, que diz não ser clubber mas pintou o cabelo de tinta guache azul para "estar com a cara do lugar" na última Fusion.  
Essa foi, até agora, a rave recordista de público.

Milhares de jovens beberam e dançaram horas a fio nas tendas, rigorosamente separadas, de som techno, trance (mistura do techno com música de meditação tipo new age) e drum' n'bass (que lembra o reggae), com um deslocado maracatu ao vivo de contraponto.

Quase tão vibrante quanto o roça-roça nas pistas foi o movimento do caixa. Numa festa que custou R$ 70.000,00 reais, só em ingressos os promotores arrecadaram mais de R$ 100.000,00, sem contar bebidas, guloseimas e bilhetes para o bungee-jump. "Esse mercado é violento no mundo inteiro, e o Brasil não fica de fora", alegra-se Daniel Balaban, 23 anos, estudante de economia e sócio de Hughes.  

Sainha de filó

Os alternativos dos anos 90 são assim mesmo: conciliam as regras do mercado a algo do libertarismo do movimento hippie. "Rave é uma festa em que as pessoas podem pirar no visual e nas atitudes e ninguém recrimina ninguém", vibrava a psicóloga Andréa Costa, 23 anos, à vontade na maquiagem carregadíssima, com olhos pintados de azul e rosto coberto de purpurina.

A temperatura de uma boa rave, dizem os especialistas, é medida pela vibração do público dançante — muitas vezes turbinada por drogas como ecstasy, uma espécie de tempero do mundo clubber, unha e carne com a imagem das megafestas.

Por esse critério, a Salvation, realizada no Rio de Janeiro na semana passada, foi sucesso absoluto.
Depois que a drag queen Power, de Trinidad e Tobago, fez seu número no palco metida num maiô prateado, a turma caiu na pista, chacoalhando ao som do Dj Abel, vindo de uma boate gay de Miami, de onde partiu também o alegre grupo de 100 americanos que desembarcou na cidade só para o acontecimento.

A carioca Renata Sprin, 23 anos, passou duas horas se produzindo e chegou vestida de bailarina, com colant azul-turquesa, sainha de filó e botas pretas de verniz no lugar das sapatilhas. "Nas raves é onde fico à vontade", celebrou Renata.

O apogeu de qualquer rave, grande ou pequena, é quando o dia começa a clarear. Quase ninguém percebe, porque estão todos de óculos escuros. E continuam dançando freneticamente.


Para mais uma geração, a vida, finalmente, é uma festa.

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