25 de julho de 2019

Com Era a Cena Rave dos anos 90


“Yes, nós temos Rave”


cena rave dos anos 90

Como já disse Palomino em Babado Forte, em 1999, “Yes nós temos Rave."

AS RAVES

Mas, podemos afirmar que o Brasil chegou talvez dez anos atrasado para a festa, pois em Londres as Raves explodiram em 1988, trazendo mudanças significativas no comportamento dos jovens.
Mas, o que se entendia por festas Raves, o que caracterizavam essas festas em Londres e depois aqui?


Raves podem ser tidas como sinônimo de festas de sítio, ou melhor, festas que, na maioria das vezes, acontecem em lugares distantes dos centros urbanos, com duração de mais de doze horas e onde a música é essencialmente eletrônica.
Em Londres, as pessoas se reuniam inicialmente em torno do Acid House (tipo de som eletrônico), em lugares distantes, descampados, hangares e armazéns e lá dançavam, ou melhor, pulavam durante horas seguidas junto com batidas do som e muitas vezes sob o efeito do Ecstasy (droga freqüentemente usada nesse tipo de festa).


E, por isso, os ingleses sofriam perseguições da polícia ou de legislações, como Criminal Justice Act 1994, que incluíram a palavra Rave num estatuto de ato ilegal onde havia uma reunião de pessoas ouvindo batidas repetitivas nos campos.

No Brasil, o caráter das Raves parece ter sido contrário.
Desde o início essa festa serviu para democratizar a música eletrônica.

As Raves no Rio de Janeiro e São Paulo serviram para tirar a música eletrônica, assim como a moda usada (nos clubs), dos guetos, fazendo crescer um número cada vez maior de adeptos. Fato este que determinou não perseguições pela polícia, mas sim mudanças nos conceitos das cabeças desses jovens.

O “mundinho” acabou agora, de fato, virando “mundão”, como eles mesmos dizem, e a cena Clubber virou mainstream com o advento das festas Raves.

O “boom” inicial dessas festas parece ter sido a saturação do público jovem em relação às noites de programações fixas e o cansaço em relação à cultura dos clubs.

Os frequentadores dos clubs não aguentavam mais a falta de criatividade dos promoters e a antipatia (vulgarmente conhecida como “carão”) de alguns Clubbers. Nas Raves, ao contrário disso, a atmosfera era de paz, de diversão sem preconceitos, o que era muito mais convidativo.

Bem diferente dos clubs, onde a roupa que se usava e ao lado de quem se dançava, enfim, a aparência era o que importava. Já nas Raves, as pessoas iam para dançar, suar e confraternizar num espírito de harmonia e comunhão e de integração com a natureza.

Liberdade, individualidade e respeito ao próximo viraram palavras de ordem nesses espaços. Para ilustrar o que foi dito acima mencionamos novamente Palomino (1999) que diz que a Rave XXXPerience brasileira chegou a integrar uma rede internacional de eventos pela libertação do Tibet e a Rave Fusion teve apoio do Greenpeace.

A primeira festa Rave no Brasil aconteceu em 1992 e foi batizada com o nome de Jeneration.

A festa foi amplamente encampada pela mídia e pelo patrocinador (uma marca de jeans), o que faz com que o conceito já nascesse trocado. A festa aconteceu no estádio do Pacaembu em São Paulo. Foi somente alguns anos depois que os produtores começaram a se inspirar na receita do-it-yourself (faça você mesmo) que norteava a experiência underground.

O que parece ter trazido o incentivo necessário para a penetração dessas festas foi a vinda de DJS estrangeiros que já tinham vivido a cena em outros lugares do mundo, como nas praias de Goa da Índia, em Londres e Ibiza.

As festas começam a ser testadas ao ar livre na Bahia, em locais como Porto Seguro e Trancoso, mas o público era mais de turistas nessa época.

Na tentativa de reprodução do que acontecia lá fora, aconteceu em Agosto de 1995, a festa Naganaja numa área ao ar livre no bairro de Santo Amaro, em Salvador, já distante do centro.

A decoração começou a ganhar um estilo próprio com árvores envolvidas em papel brilhante, sob a luz negra, além de elementos fluorescentes e recursos gráficos que remetiam a cultura hindu.
O novo e o velho se aproximavam assim como a cultura ocidental da oriental, mostrando que, graças à globalização, essas festas poderiam estar acontecendo. A partir de 1997, a cena explode junto com as batidas do novo som eletrônico, o Trance.

Se até essa data o som techno dominava a cena, tudo começa a mudar e os ouvidos dos Clubbers começam a se habituar a uma batida mais acelerada e energética de um gênero que o nome já diz: É para se entrar em transe.

Esse tipo de som conquista uma nova geração dentro da cena. São pessoas com pouca história musical e cultura de noite, mas com muita energia para esse novo movimento. E pode-se dizer que esse novo gênero musical, surgido junto com a febre das Raves, evoca a mesma paixão do início da década provocada pelo Techno.  

Em 13 de maio de 1999, a revista Veja São Paulo dá capa e oito páginas internas sobre o fenômeno das Raves nas cidades e sua popularização. Agito sem fim, titula a machete da capa.

O sucesso das Raves, festas ao ar livre animadas por música eletrônica e muita pirotecnia, que atraem até dez mil jovens e chegam a durar 17 horas. “Uma característica essencial da onda atual é que, em vez de criar guetos produz uma espécie de tutti-frutti de tribos noturnas, colocando lado a lado Clubbers, skatistas, universitários, surfistas, Ravers e até aqueles tipos que se convencionou chamar de Patricinhas e Mauricinhos.” (Palomino 1999:140)  

O ano de 1998 veio marcar uma diferença e uma novidade na cena Clubber e Raver. Começaram a surgir as megafestas Raves, onde o que se busca é uma total integração de todos os clãs e facções da cena eletrônica.

De duas mil pessoas para, hoje em dia, até 50 mil pessoas, as festas desse porte acabaram por popularizar a cena eletrônica, já que a única restrição era o som com predominância eletrônica, fosse qual fosse o gênero (do techno ao trance).

Os transeuntes podem ser das mais diversas tribos urbanas que, juntos, parecem formar uma única tribo unida pelo som.

Apesar de esse fenômeno ter servido para aglutinar jovens, uma parcela da cena, composta pelos mais antigos, não ficou satisfeita, argumentando estarem perdidos o propósito original e vibração inicial e, assim, deixam de frequentar esses megaeventos.


E assim, esse pessoal descontente com esses megaeventos (inclusive eu), lança o conceito de Festas PVT, ou seja, festas com pouca divulgação e as pessoas ficavam sabendo só no boca-a-boca. Festas boas, com qualidade musical e retornando ao conceito inicial das Raves.

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