Quem viveu intensamente essa cena maravilhosa, sabe o quanto foi bom demais sair para as baladas, conhecer gente nova, dançar até o sol raiar, só de lembrar causa arrepios.
Confira esse texto que estou compartilhando aqui com vocês, é muito bacana.
Em 1992, em meio ao marasmo geral, veio uma luzinha no fundo do porão. Clubes noturnos pipocaram. Talvez para combater a sinistrose do momento. Estava nascendo um novo grupo, os Clubbers.
Movimento minúsculo, em pouco tempo tornou-se maiúsculo. Locais gays e mixed começaram a ter características nacionais - sem deixar de ficar de olho nos modelos londrino e americano.
Tornaram-se templos da estética alternativa. Os Clubbers brasileiros inventaram formas de transformar a própria anatomia para torná-la mais sedutora, mais atraente. Ou simplesmente existir.
Critérios de beleza, erotismo e sensualidade são reinventados sem cessar, numa espécie de frenético exercício.
Os Clubbers saboreiam suas metamorfoses e seu potencial para audácias. Estimulam o lado voyeur das pessoas. A estética contracultural foi a centelha revitalizadora do mundo fashion.” (Constanza Pascolato em Palomino 1999: 226).
A partir da abrupta entrada do Brasil na globalização, o perfil dos jovens brasileiros de classe média do Rio de Janeiro e de São Paulo começou a mudar.
Cansados das ditaduras do dinheiro e status impostas pelos anos 80, garotos e garotas começaram a escrever sua própria história, deixando de lado aquele jeito “careta” de andar em bandos nos shoppings centers, para refletir uma cultura jovem que acontecia no mundo inteiro.
Esse cenário configurou a explosão da cena Clubber, junto com a música eletrônica e sua moda.
As pistas de dança, no underground dos clubs noturnos e depois nas megafestas Raves em lugares distantes, denunciavam que a música eletrônica começava a se transformar na língua franca de um mundo unido pela música, moda e tecnologia.
Os “clientes” dessa moda, tinham toda a vontade de ousar, desfilando a cada noite modelitos com um punhado de criatividade, com roupas de personagens inventados, arrojos de cunho sexual e tudo que se pode imaginar.
No início dos anos 90 entrou na moda a palavra “montação”, que definia o modo de vestir em voga na noite paulistana, segundo Palomino, em Babado Forte, de 1999 (eu tenho esse livro ;).
A gíria veio do universo dos travestis e Drags de rua em que “montada” significava o efeminado vestido de mulher. As sementes da montação foram lançadas inicialmente no Club Nation (clube que funcionou entre 1988 e 1991 na galeria América da Rua Augusta) onde as suas armas eram a pelúcia, os paetês, plataformas e os famosos boás.
O termo se generalizou para a vestimenta Clubber em si e desde então montação passou a significar um jeito mais extravagante, fashion e caprichado de se vestir para a noite.
De início, a cena Clubber estava diretamente associada ao universo gay, pois o movimento surgiu com a chegada da música house (que era ouvida prioritariamente em festas gays nas quais estes iam “montados”), e só depois esse som eletrônico e sua moda se popularizaram entre os héteros, que aderiram à cena.
“A montação inclui o exagero e o kitsch, na arriscada busca pelo limite entre o cafona e o permitido, numa fase de retomada dos valores estéticos da década que – como se diz - o bom gosto esqueceu. Entre os hypes, o lurex e os brilhos, materiais como vinil e o couro sintético em geral. A maquiagem deve ser sempre intensa - batons vermelhos ou fúcsia, os cílios, as sombras fortes, a purpurina.” (Palomino, 1999:222).
A inspiração para se “montar” vinha não somente de revistas e cantores, mas principalmente do estilo “club kidz”, ou melhor, dos Clubbers da cena nova-iorquina, que se vestiam de modo extravagante e tinham um comportamento para lá de exibido. Faziam parte do estilo club kidz a androginia, o glamour e um alto grau de teatralidade no vestir.
O retrô, como já foi mencionado anteriormente, fazia parte dos elementos mais marcantes da moda dos Clubbers.
Os brechós eram transformados em fontes inesgotáveis de modelos para a montação, menos pelos motivos hypes do que pela necessidade, já que comprar roupa em brechó era muito mais barato. Mas, além dos brechós, onde esses sujeitos compravam o que vestiam?
A moda Clubber trouxe de volta o ânimo que estava faltando nos criadores. Surgida primeiramente em São Paulo e depois no Rio de Janeiro, como já foi visto, essa moda difundiu idéias através do underground e da falta de preconceitos.
Toda essa ebulição aconteceu junto com a febre de desfiles em clubs noturnos. A moda Clubber parecia realmente acompanhar o som das pistas.
A música eletrônica, apesar de suas batidas parecerem iguais, começou a se diferenciar com a chegada do techno, um tipo de som mais pesado, que vem a influenciar a moda dos clubs.
Mais ou menos em 1994, alguns membros formadores de opinião da cena Clubber paulistana renegam o gênero se dizendo “underground” e não mais Clubbers, apesar de continuarem se encontrando nos clubs noturnos. Entra em decadência, com a chegada da música techno, o revival do disco assim como seu visual dentro dos clubs.
Os antigos Clubbers pareciam não querer mais estar associados ao movimento anterior, o qual estava, inicialmente, vinculado ao universo gay.
Com o movimento da música techno, surgem os héterotechnos, que migraram de outras tribos, como skate e rock, atraídos pelo som mais radical desse gênero eletrônico. O importante passa a ser transmitir um caráter de não conformidade.
Dessa forma, usar preto torna-se obrigatório junto com muitos piercings e tatoos, os quais funcionam como acessórios mas que na realidade são permanentes. É o ápice do body art como expressão (pura verdade, nessa época comecei a colocar piercing para todos os lados do meu corpo).
À medida que a cena nacional recebia influências da cultura dos clubs europeus, a moda foi seguindo esse caminho. O potencial fashion da “montação”, pelo fato de se passar horas dançando numa pista quente, perdeu terreno para o conforto.
As perucas caíram e os adeptos dos saltos desceram das plataformas, pois, por mais que fossem emblemáticos do estilo, era cansativo passar tantas horas se equilibrando nas pistas.
A moda, juntamente com jovens, começou a sair dos clubs para as festas Raves, com duração de dias, em lugares mais abertos. A estética Rave e a droga Ecstasy usada nesse tipo de festas começaram a influenciar a escolha das roupas para se dançar.
Junto com as Raves, parece que entram em cena valores como tecnologia, globalização, internet e futurismo.
Surge uma moda colorida e divertida sem ser necessariamente extravagante. Mesmo que o look utilizado seja intencional e elaborado, o efeito precisa dar a impressão do contrário, aparentar despojamento e conforto.
Planetas, naves robôs e efeitos 3D passam a ser símbolos nas estamparias. O refletivo e fluorescente passam a ser usados em todas as possibilidades.
Confira esse texto que estou compartilhando aqui com vocês, é muito bacana.
Em 1992, em meio ao marasmo geral, veio uma luzinha no fundo do porão. Clubes noturnos pipocaram. Talvez para combater a sinistrose do momento. Estava nascendo um novo grupo, os Clubbers.
Movimento minúsculo, em pouco tempo tornou-se maiúsculo. Locais gays e mixed começaram a ter características nacionais - sem deixar de ficar de olho nos modelos londrino e americano.
Tornaram-se templos da estética alternativa. Os Clubbers brasileiros inventaram formas de transformar a própria anatomia para torná-la mais sedutora, mais atraente. Ou simplesmente existir.
Critérios de beleza, erotismo e sensualidade são reinventados sem cessar, numa espécie de frenético exercício.
Os Clubbers saboreiam suas metamorfoses e seu potencial para audácias. Estimulam o lado voyeur das pessoas. A estética contracultural foi a centelha revitalizadora do mundo fashion.” (Constanza Pascolato em Palomino 1999: 226).
A partir da abrupta entrada do Brasil na globalização, o perfil dos jovens brasileiros de classe média do Rio de Janeiro e de São Paulo começou a mudar.
Cansados das ditaduras do dinheiro e status impostas pelos anos 80, garotos e garotas começaram a escrever sua própria história, deixando de lado aquele jeito “careta” de andar em bandos nos shoppings centers, para refletir uma cultura jovem que acontecia no mundo inteiro.
Esse cenário configurou a explosão da cena Clubber, junto com a música eletrônica e sua moda.
As pistas de dança, no underground dos clubs noturnos e depois nas megafestas Raves em lugares distantes, denunciavam que a música eletrônica começava a se transformar na língua franca de um mundo unido pela música, moda e tecnologia.
Os “clientes” dessa moda, tinham toda a vontade de ousar, desfilando a cada noite modelitos com um punhado de criatividade, com roupas de personagens inventados, arrojos de cunho sexual e tudo que se pode imaginar.
No início dos anos 90 entrou na moda a palavra “montação”, que definia o modo de vestir em voga na noite paulistana, segundo Palomino, em Babado Forte, de 1999 (eu tenho esse livro ;).
A gíria veio do universo dos travestis e Drags de rua em que “montada” significava o efeminado vestido de mulher. As sementes da montação foram lançadas inicialmente no Club Nation (clube que funcionou entre 1988 e 1991 na galeria América da Rua Augusta) onde as suas armas eram a pelúcia, os paetês, plataformas e os famosos boás.
O termo se generalizou para a vestimenta Clubber em si e desde então montação passou a significar um jeito mais extravagante, fashion e caprichado de se vestir para a noite.
De início, a cena Clubber estava diretamente associada ao universo gay, pois o movimento surgiu com a chegada da música house (que era ouvida prioritariamente em festas gays nas quais estes iam “montados”), e só depois esse som eletrônico e sua moda se popularizaram entre os héteros, que aderiram à cena.
“A montação inclui o exagero e o kitsch, na arriscada busca pelo limite entre o cafona e o permitido, numa fase de retomada dos valores estéticos da década que – como se diz - o bom gosto esqueceu. Entre os hypes, o lurex e os brilhos, materiais como vinil e o couro sintético em geral. A maquiagem deve ser sempre intensa - batons vermelhos ou fúcsia, os cílios, as sombras fortes, a purpurina.” (Palomino, 1999:222).
A inspiração para se “montar” vinha não somente de revistas e cantores, mas principalmente do estilo “club kidz”, ou melhor, dos Clubbers da cena nova-iorquina, que se vestiam de modo extravagante e tinham um comportamento para lá de exibido. Faziam parte do estilo club kidz a androginia, o glamour e um alto grau de teatralidade no vestir.
O retrô, como já foi mencionado anteriormente, fazia parte dos elementos mais marcantes da moda dos Clubbers.
Os brechós eram transformados em fontes inesgotáveis de modelos para a montação, menos pelos motivos hypes do que pela necessidade, já que comprar roupa em brechó era muito mais barato. Mas, além dos brechós, onde esses sujeitos compravam o que vestiam?
No Mercado Mundo Mix e Galeria Ouro Fino
Toda essa ebulição aconteceu junto com a febre de desfiles em clubs noturnos. A moda Clubber parecia realmente acompanhar o som das pistas.
A música eletrônica, apesar de suas batidas parecerem iguais, começou a se diferenciar com a chegada do techno, um tipo de som mais pesado, que vem a influenciar a moda dos clubs.
Mais ou menos em 1994, alguns membros formadores de opinião da cena Clubber paulistana renegam o gênero se dizendo “underground” e não mais Clubbers, apesar de continuarem se encontrando nos clubs noturnos. Entra em decadência, com a chegada da música techno, o revival do disco assim como seu visual dentro dos clubs.
Os antigos Clubbers pareciam não querer mais estar associados ao movimento anterior, o qual estava, inicialmente, vinculado ao universo gay.
Com o movimento da música techno, surgem os héterotechnos, que migraram de outras tribos, como skate e rock, atraídos pelo som mais radical desse gênero eletrônico. O importante passa a ser transmitir um caráter de não conformidade.
Dessa forma, usar preto torna-se obrigatório junto com muitos piercings e tatoos, os quais funcionam como acessórios mas que na realidade são permanentes. É o ápice do body art como expressão (pura verdade, nessa época comecei a colocar piercing para todos os lados do meu corpo).
À medida que a cena nacional recebia influências da cultura dos clubs europeus, a moda foi seguindo esse caminho. O potencial fashion da “montação”, pelo fato de se passar horas dançando numa pista quente, perdeu terreno para o conforto.
As perucas caíram e os adeptos dos saltos desceram das plataformas, pois, por mais que fossem emblemáticos do estilo, era cansativo passar tantas horas se equilibrando nas pistas.
A moda, juntamente com jovens, começou a sair dos clubs para as festas Raves, com duração de dias, em lugares mais abertos. A estética Rave e a droga Ecstasy usada nesse tipo de festas começaram a influenciar a escolha das roupas para se dançar.
Junto com as Raves, parece que entram em cena valores como tecnologia, globalização, internet e futurismo.
Surge uma moda colorida e divertida sem ser necessariamente extravagante. Mesmo que o look utilizado seja intencional e elaborado, o efeito precisa dar a impressão do contrário, aparentar despojamento e conforto.
Planetas, naves robôs e efeitos 3D passam a ser símbolos nas estamparias. O refletivo e fluorescente passam a ser usados em todas as possibilidades.
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